sábado, 31 de março de 2012

Cinco pontos entre Arminianismo e Calvinismo

A pedido do aluno, seminarista, Júlio Sérgio Busolo, do Seminário CACP, faço essa postagem.

Quero deixar claro que respeitamos todos os pontos de vista e que esse estudo é apenas para realçar as diferenças entre Jacobus Armínio (1560-1609) e João Calvino (1509-1564).

A fonte que retirei esse material é da Apostila de Estudo do Curso de Teologia de Wesley, ministrado pela FTML, organizado pelo Prof. Pr. Dionísio Oliveira da Silva, edição de 2005.

faça o download desse trabalho no arquivo do Word 2007 formatado. (clique aqui)

A - O Arminianismo

O ponto principal desse movimento é o livre-arbítrio. Armínio na verdade não era opositor da predestinação, entretanto, ele questionava as bases sobre as quais os argumentos calvinistas eram construídos.

1) A predestinação é condicional, não absoluta, ou seja, Deus elege ou reprova com base na fé ou na incredulidade. O pecador deve exercer a sua própria fé, para crer em Cristo e ser salvo.

Os que se perdem, perdem-se por livre escolha: não quiseram crer em Cristo, rejeitaram a graça auxiliadora de Deus. (Dt 30:19, Jo 5:40, 8:24, Ef 1:5,6-12, Tg 1:14, 1 Pe 1:2 e Ap 3:20 e 22:17)

2) A expiação é universal. O sacrifício de Cristo torna possível a toda e qualquer pessoa ser salvo pela fé, mas não assegura a salvação de ninguém. Só os que crêem Nele, e todos os que crêem, serão salvos. (Jo 3:16, 12:32, 17:21, 1 Jo 2:2, 1Co 15:22, 1Tm 2:3-4, Hb 2:9, 2Pe 3:9)

3) O livre-arbítrio, ou liberdade humana é a forma de responder à salvação ou não. Embora a queda de Adão tenha afetado seriamente a natureza humana, as pessoas não ficaram num estado de total incapacidade espiritual. Todo pecador pode arrepender-se e crer, por livre-arbítrio, e determinar seu destino eterno. O pecador precisa da ajuda do Espírito Santo, e só é regenerado depois de crer, porque o exercício da fé é a participação humana no novo nascimento. (Is 55:7, Mt 25:41-46, Mc 9:47-48, Rm 14:10-12, 2Co 5:10)

4) A graça pode ser rejeitada. Deus faz tudo o que deve, para salvar os pecadores. Estes, porém, sendo livres, podem resistir aos apelos da graça. Se o pecador não reagir positivamente, o Espírito Santo não lhe pode conceder vida. Portanto, a graça de Deus, não é infalível nem irresistível. O homem pode frustrar a vontade de Deus para sua salvação. (Lc 18:23, 19:41-42, Ef 4:30, 1Ts 5:19)

5) Os crentes regenerados pelo Espírito podem cair da graça e perder-se eternamente. Embora, o pecador tenha exercido fé, crido em Cristo e nascido de novo para crescer na santificação, ele poderá cair da graça. Só quem perseverar até o fim é que será salvo. (Lc 21:36, Gl 5:4, Hb 6:6, 10:26-27, 2Pe 2:20-22)

B - O Calvinismo

O ponto principal do calvinismo está na predestinação. Na realidade a controvérsia entre os arminianos e calvinistas surgiu principalmente por questões políticas e não de fé. Os nacionalistas calvinistas se opunham à implantação do sistema mercantil que se estabeleceria através de relacionamentos comerciais com a Espanha (católica), no qual era visto pelos puritanos calvinistas prejudicial e uma ameaça perigosa de corrupção à Igreja holandesa, da época.

1) A raça humana é totalmente depravada. O homem herdou a culpa do pecado de Adão e nada pode fazer para sua salvação. O homem natural não pode nem sequer apreciar as coisas de Deus. Menos ainda salvar-se. Ele é cego, surdo, mudo, impotente, leproso espiritual, morto em seu pecado, insensível à graça comum. Se Deus não tomar a iniciativa, influindo-lhe de fé salvadora, e fazendo-o ressuscitar espiritualmente, o homem natural continuará morto eternamente. (Sl 51:5, Jr 13:23, Rm 3:10-12, 7:18, 1Co 2:14, Ef 1:3-12 Cl 2:11-13)

2) A eleição é incondicional e independente do mérito humano ou da presciência de Deus. A eleição é fundamentada na soberania da vontade de Deus. Ele elege alguns para a salvação em Cristo, reprovando os demais. Deus não tem obrigação de salvar ninguém, nem homens, nem angjos decaídos. Resolveu soberanamente salvar alguns homens (reprovando os demais) e torná-los filhos adotivos quando eram ainda filhos das trevas. Teve misericórdia de algumas criaturas, e deixou as demais (inclusive os demônios) entregues às suas próprias paixões pecaminosas. A salvação é efetuada totalmente por Deus. A fé, como salvação, é Dom de Deus ao homem, não do homem a Deus. (Ml 1:2-3, Jo 6:65, 13:18, 15:6, 17:9, At 13:48, Rm 8:29-33, 9:16, 11:5-7, Ef 1:4-5, 2:18-10, 2Ts 2:13, 1Pe 2:8-9, Jd 1:4)

3)A expiação é limitada. A obra de Cristo na cruz é restringida aos eleitos para a salvação. Segundo Agostinho a graça de Deus é "suficiente para todos, eficiente para os eleitos". Cristo foi sacrificado para redimir Seu povo, não para tentar redimi-lo. Ele abriu a porta da salvação para todos, porém, só os eleitos querem entrar, e efetivamente entram. (Jo 17:6,9-10, At 20:28, Ef 5:25, Tt 3:5)

4) A graça é irresistível. Embora os homens possam resistir à graça de Deus, ela é, todavia infalível: acaba convencendo o pecador de seu estado depravado, convertendo-o, dando-lhe nova vida e santificando-o. O Espírito Santo realiza isto sem coação. É como o rapaz que acaba ganhando ao amor de sua eleita, e ela acaba casando-se com ele, livremente. Deus age e o crente reage, livremente. Quem se perde tem consciência de que stá livremente rejeitando a salvação. Alguns escarnecem de Deus, outros se enfurecem, outros adiam a decisão, outros demonstram total indiferença para com as coisas sagradas. Todos, porém, agem livremente. (Jr 3:3, 5:24, 24:7, Ez 11:19, 20, 36:26-27, 1Co 4:7, 2Co 5:17, Ef 1:19-20, Cl 2:13, Hb 12:2)

5) Os santos perseveram. Nada há no homem que o habilite a perseverar na obediência e fidelidade ao Senhor. O Espírito é quem persevera pacientemente, exercendo misericórdia e disciplina, na condução do crente. Quando ímpio, estava morte em seu pecado e ressuscitou: Cristo lhe aplicou Seu sangue remidor, e a graça salvífica de Deus infundiu-lhe fé para crer em Cristo e obedecer a Deus. Se todo o processo de salvação é obra de Deus, o homem não pode perdê-la! Segundo a Bíblia, é impossível ao crente regenerado perder sua salvação. Poderá pecar e morrer fisicamente. (1 Co 5:1-5) Os apóstatas nunca nasceram de novo, jamais se converteram. (Is 54:10, Jo 6:51, Rm 5:8-10, 8:28-39, 11:29, Fp 1:6, 2Ts 3:3, Hb 7:25)

Bom, agora, você aluno, seminarista, teólogo, ou mesmo curioso na área tire suas conclusões sobre o tema, lembrando-se sempre que precisamos respeitar as diferenças, até porque "teologia" e "doutrina" não levam ninguém pro "céu"!

Como sou um pastor metodista-wesleyano de coração, paixão, amor e dedicação, não poderia deixar de lado o tópico abaixo, que se encontra no mesmo trabalho do Prof. Pr. Dionísio.

C - O Arminianismo Wesleyano

Apesar de John Wesley ter sido educado sob as influências de princípios calvinistas de sua época, visto que seu pai era um presbítero anglicano (puritanismo calvinista), e especialmente por sua mãe, uma vez que Wesley e os irmãos foram ensinados em casa, por ela, o conceito wesleyano sobre a relação entre a soberania de Deus e a liberdade humana, foi desenvolvido tendo uma maior ênfase os princípios arminianos.

Arminio sustentava uma visão elevada acerca da santificação, mas falhou ao não ver como Wesley viu, que a santificação também é recebida pela fé e administrada pelo Espírito Santo.

Para os doutrinadores, há o brocardo que diz: "a ortodoxia arminiana infundida com o calor e o poder do Espírito Santo".

O arminianismo-wesleyano também se caracteriza pela oposição ao liberalismo pelagiano (Pelágio, foi teólogo britânico que ensinava que viver isento do pecado era uma possibilidade humana, requerendo muita força de vontade). Wesley insistia na necessitade de Cristo, o Redentor.

Igualmente, Wesley também se opunha ao antinomianismo do alto calvinismo, ao reconhecer a necessidade da libertação da "mancha da depravação".

(Segundo o wikipedia: Antinomianismo (um termo cunhado por Martinho Lutero, do grego ἀντί, "contra" + νόμος, "lei") é definida como uma declaração que, sob a dispensação do evangelho da graça, a lei moral é de nenhum uso ou obrigação, porque somente a fé é necessária para a salvação.)

O ponto central da visão wesleyana, diferentemente de Armínio que focava na capacidade da liberdade da vontade humana, estava no fato que Wesley via o homem natural como diabólico, mal, completamente depravado e corrupto. Para Wesley, qualquer bem em qualquer homem só era possível pela graça de Deus.

A ação e a dependência do Espírito Santo foi o elemento especial que Wesley acrescentou à percepção que teve Armínio.

Para Wesley a fé não era meramente uma afirmação intelectual ou um dom extra de Deus concedido aos eleitos, mas um novo modo de vida, cuja expressão concreta resultava sempre na glorificação de Cristo.

A ênfase calvinista sobre a salvação estava centrada na "perfeição na fé", entretanto para Wesley, uma dimensão maior havia, ou seja, "perfeição em amor e obediência".

Para Wesley o verdadeiro cristão, salvo, era aquele cuja fé era ativa em amor.

Além disso, para Wesley a fé não era causa da salvação, mas condição necessária para recebê-la. Wesley dizia que a fé não salva ninguém, mas estabelece um relacionamento entre o ser humano e Cristo, o qual nos conduz à salvação.

Para Wesley a fé era mais que uma mera crença, para ele atitude de fé envolvia confiança, dependência e relacionamento.

Wesley conclamava o povo em sua época para um apelo:

a) da necessidade de uma experiência pessoal e transformadora por meio da graça perdoadora de Deus pelos pecados cometidos.

b) do poder do Espírito Santo para remover a mancha do pecado interior (inbred sin) e,

c) de uma vida verdadeira com Deus a ser vivida neste mundo que respondesse as necessidades da sociedade golpeada pelo orgulho e pela avareza do ser humano.


Bibliografia:

- Gonzales, Justo. A Era dos dogmas e das dúvidas. Ed. Vida Nova. (1984)

- Heitzenrater, Richard P. Wesley e o povo chamado metodista. Ed. Editeo.(2006)

- Livro de Disciplina da Igreja Metodista Livre.

- Runyon, Teodore. A Nova Criação. A Teologia de João Wesley hoje. Ed. Editeo (2006)

7 comentários:

  1. Este sobre a salvação condicional e incodicional, é uma questão polêmica. Particularmente, eu creio na linha de pensamento ARMINIANA. LUIZ CACP

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  2. Olá professor, estou na aula de português e entrei no site e vi sua postagem. Copiei e vou ler, amanhã faço um comentário como você espera, ok?
    Também vou pegar a postagem sobre o catecismo, depois comento.
    Obrigado pela atenção
    Cida Martins (ou Maria Aparecida de Oliveira)

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  3. Amém queridos alunos.

    Que alegria vê-los aqui no PlugVida Estudos.

    Esse portal é de vcs também.

    podem mandar matérias, tópicos, e tudo que vcs acharem interessante,
    e estarei com alegria postando aqui.


    abraços a todos.

    Prof. Pr. Júlio César L. Ronqui
    CACP
    CAAPE

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  4. Quero em primeiro lugar externar a minha alegria por ser aluno do Prof.Pr. Júlio. Dinâmico, aplicado e acima de tudo ministrando aulas de caráter inovador, prático e objetivo. Em especial quero dizer que em 35 anos de caminha cristã, não sabia da existência deste documento Catecismo Maior de Westminster. A propósito deveria ser mais divulgado nas Igrejas Evangélicas.
    SEMINARISTA LUIZ - CACP

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  5. Seminarista Luiz,

    paz querido,

    na verdade a honra é minha,
    pois vocês, seminaristas do CACP é que são vencedores.

    pessoas trabalhadoras, firmes e batalhadoras, que passam o dia todo trabalhando, cuidando de suas famílias, e ainda a noite vem à Faculdade para aprender.

    isso sim são guerreiros e vencedores.

    Não se esqueçam, a coroa de vocês será muito grande! Aleluia.

    Com relação aos seus elogios, agradeço querido, realmente tento fazer o melhor, pois vcs são os melhores!

    A respeito do Catecismo, a bem da verdade, apenas as igrejas de origem e ou tradição presbiterianas que o utilizam, nós mesmo metodistas temos o nosso Livro de Disciplina, que regulamenta boa parte das perguntas do catecismo.

    entretanto, independente da tradição ou ideologia ministerial, de fato vc tem razão, o catecismo poderia sim ser utilizado mais em todas igrejas protestantes, fazendo-se entretanto, a ponderação necessária com respeito às tradições e doutrinas de cada uma.

    fique na paz querido,


    e a sua participação aqui no Plug Vida Estudos está fantástica,

    estou gostando de ver,

    Luiz, vc já ganhou seu 1 ponto na matéria, pois concluiu os comentários que solicitei aqui no site, como trabalho curricular de apoio acadêmico,

    mas está convidadíssimo a continuar comentando e quero logo logo, que vc esteja postando também conteúdos no Plug Vida Estudo.

    abraços

    paz


    Prof. Pr. Julio César L. Ronqui

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  6. Paz Pastor Julio !!!Boa Tarde !!! Eu estava procurando entender mais estes pontos, há uma grande polêmica sobre estes dois. Na verdade no começo foi um briga política, que se estendeu para muitas Mortes de Cristãos , hoje ainda nao se entrou em nenhuma conclusão entre os cristãos, mas como o Professor disse não se considera-se na Salvação. Pessoalmente depois de ver os pontos , tomei a posição de John Wesley!!
    Seminarista : Willian Adolfo

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  7. Seminarista Willian Adolfo,

    boa tarde, graça e paz.

    Obrigado por participar do blog, seus comentários são sempre bem vindos!

    em relação a essa postagem, ainda há uma grande polêmica em torno disso.

    mas o que devemos focar é no Evangelho (puro e simples).

    essa é uma questão doutrinária, que dependerá do Ministério, da tradição e teologia da Igreja em si.

    embora, como Metodista que sou de coração, fico feliz em saber que você conseguiu assimilar a idéia de Wesley.

    abraços,

    bons estudos

    Prof. Júlio César L. Ronqui

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